sábado, 3 de dezembro de 2011

A jornada



Um dia descobriste finalmente
o que tinhas que fazer, e começaste,
apesar das vozes à tua volta
continuarem a gritar-te
os seus maus conselhos -
apesar de toda a casa
ter começado a vacilar
e sentires o velho esticão
nos teus tornozelos.
"Corrige a minha vida!"
gritou cada uma das vozes.
Mas não paraste.
Sabias o que tinhas que fazer,
apesar do vento ter suplicado
com os dedos apontados
às mais profundas fundações,
apesar da sua melancolia
ser terrível.
Era já muito tarde,
e uma noite selvagem,
e a estrada cheia de ramos
caídos e pedras.
Mas, à medida que
deixavas as suas vozes para trás,
as estrelas começaram a arder
por entre as camadas das nuvens
e surgiu uma nova voz
que aos poucos
reconheceste como tua,
que te fez companhia
enquanto avançaste cada vez mais fundo
no interior do mundo,
determinado a fazer
a única coisa que podias fazer -
determinado a salvar
a única vida que podias salvar.



Mary Oliver


"Eu a transformarei em uma música de rádio para esquecer aqueles olhos vermelhos e aquelas promessas idiotas. Eu direi que a vida é uma música e é uma em que nós podemos assobiar e dançar... dançar para o AR!"

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